segunda-feira, 21 de novembro de 2011

POR DENTRO DA DIDÁTICA: UM RETRATO DE TRÊS PESQUISAS

Mestrado em Educação – Uniube
Aluna: Andréa Fabiane Machado Diniz 
Coleção Didática e Prática de Ensino - Endipe 2010


POR DENTRO DA DIDÁTICA: UM RETRATO DE TRÊS PESQUISAS

Ilma Passos Alencastro Veiga
UnB, UniCEUB

Pesquisadores interinstitucionais:
Aldeci Cacique Calixto – UFU
Dayane Garcia de Oliveira – UFU
Edileuza Fernandes da Silva – SEED-DF/UnB
Elza Guimarães Oliveira – UFU
Ilma Passos Alencastro Veiga – UnB-UniCEUB
Lúcia de Fátima Valente – FACIP/UFU
Maria Simone Ferraz Pereira – FACIP/UFU
Mônica Luiz de Lima Ribeiro – UFU
Odiva Silva Xavier – UniCEUB
Olenir Maria Mendes – UFU
Olga Teixeira Damis – UFU
Rosana César de Arruda Fernandes – UnB

INTRODUÇÃO

O texto decorre de pesquisa interinstitucional que se propõe a discutir “O papel da didática na formação de professores da educação básica e superior”. A pesquisa envolve três instituições de educação superior, sendo duas públicas e uma da esfera privada.

Nosso interesse em analisar o papel da Didática na formação de professores da educação básica fortaleceu-se no momento em que, como docentes na educação superior, identificamos algumas fragilidades no ensino da Didática, tais como ênfase na concepção técnico-instrumental e ensino focalizado na teoria em detrimento da prática, fortalecendo a descontextualização dos conteúdos da Didática. Percebemos, também, que algumas funções precípuas do ensino da Didática vêm sendo exercidas com ênfase ora na dimensão técnica, ora na dimensão política, polarizando a sua ação.

Tais considerações justificaram a necessidade de um estudo que abordasse questões elacionadas à natureza da formação didática que está sendo recebida pelos alunos dos cursos de formação de professores, na graduação.

A pesquisa de cunho qualitativo utilizou a entrevista semiestruturada, a observação, análise documental e o grupo focal, envolvendo professores de Didática e alunos de licenciatura das três instituições pesquisadas.

O objetivo desse recorte da pesquisa visa ampliar as características da prática pedagógica desenvolvida pelos professores de Didática, pesquisados nas aulas observadas.

As opções conceituais relacionadas às especificidades das aulas observadas orientaram a análise dos dados em direção à descoberta de pontos considerados importantes para a interpretação. A aula é o momento em que ocorre o encontro entre os alunos e o conteúdo de ensino. É pensada e planejada com vistas a atingir objetivos educativos no plano de ensino. Nesse sentido, a aula não é um espaço físico, um horário e um grupo de alunos, mas um campo de possibilidades formativas.

No contexto da educação superior, a aula influencia diretamente a formação do futuro profissional, na medida em que é nesse espaço que os professores formadores passam a seus alunos uma visão de mundo, das relações sociais e da profissão. Expressa, portanto, uma perspectiva de formação, suas bases políticas, teóricas  metodológicas. Libâneo, estudioso do tema, apresenta o seguinteconceito: o conjunto dos meios e condições pelos quais o professor dirige e estimula o processo de ensino em função da
atividade própria do aluno no processo da aprendizagem escolar, ou seja, a assimilação consciente e ativa dos conteúdos (1991, p. 177).

Neste sentido, o espaço da aula é aqui entendido como algo que extrapola a organização do espaço físico que define o papel do professor, do estudante, do conhecimento e dos procedimentos e recursos didáticos, uma vez que esse espaço, institucionalizado com a finalidade de promover a educação formal do cidadão, envolve as práticas e as relações entre os agentes do processo educativo, cujo objetivo principal é o ensino e a aprendizagem. Portanto, esse espaço representa uma visão de mundo e relaciona-se ao contexto em que está inserido. A aula não possui um fim em si mesmo, pois a prática pedagógica é contextualizada e considera a formação social, a estrutura econômica e política da realidade estudada.

UM BREVE RETRATO DAS TRÊS PESQUISAS

Nesta parte, procuramos identificar alguns resultados das pesquisas oriundos das observações das aulas das professoras de Didática das três instituições pesquisadoras.

No contexto da sala de aula: as práticas pedagógicas
Na pesquisa desenvolvida na Instituição A analisamos as aulas de cinco professoras de Didática. Sem desmerecer as demais funções da universidade - a pesquisa e a extensão, a ênfase na aula justificase por ser um dos espaços no qual se desenvolve o processo didático com o objetivo de possibilitar ao aluno a construção do conhecimento, mediado pela relação pedagógica, além de evidenciar o trabalho docente.

É na aula que professores e alunos dinamizam o processo didático, a partir do diálogo que privilegia saberes, culturas, experiências e valores diferenciados. É o ambiente também no qual se articulam ensino, aprendizagem, pesquisa e avaliação. Como diz Veiga (2008, p. 269), “a aula é constituída de um sistema complexo de significados, de relações e intercâmbios que ocorrem num cenário social que define demandas da aprendizagem.”.

A observação de aulas oportuniza compreender o processo vivido pelas cinco professoras de Didática da InstituiçãoAe as relações entre professor e aluno, teoria e prática, conteúdo e forma, e o uso dos recursos de ensino.

A imersão na sala de aula, espaço complexo, de relações e interações humanas, exigiu das pesquisadoras um aprofundamento teórico sobre a temática em questão, no sentido de realizar uma análise mais criteriosa da prática pedagógica que se desenvolve nesse contexto, imbuídas do desejo de contribuir para a reflexão sobre a importância da didática na formação do professor na atual sociedade em mudança.

Sem a intenção de sermos conclusivas, tendo em vista que na continuidade do estudo professoras e alunos serão ouvidos, apresentaremos algumas considerações que servem de indicadores para o aprimoramento da aula - como espaço e tempo - durante a qual docentes e alunos se encontram para, juntos, concretizarem uma relação pedagógica em direção ao desenvolvimento pessoal, profissional e institucional.

• Foi percebido certo distanciamento da realidade escolar, lócus de formação e atuação docente, o que nos leva a questionar o enfoque didático que tem sido privilegiado nos cursos de formação de professores, embora nem todas as observações revelem essa situação.
• Algumas práticas sinalizam uma relação associativa entre teoria e prática. Estas práticas, mais coerentes com o discurso didático atual, são animadoras para a formação de professores.
• O trabalho colaborativo entre as docentes, que pode contribuir para fortalecer a construção de espaços coletivos na instituição educativa e articular teoria e prática, não se concretizou. No entanto, a aula é construída coletivamente pelas interações colaborativas entre professores e alunos e isso implica uma dimensão ética.
• A forma como os conteúdos didáticos foram abordados propicia a vinculação dos mesmos às exigências teórico-práticas da formação dos alunos, futuros professores.
• A discussão e o debate têm sido privilegiados nas aulas de Didática, tendo como referência os alunos, os conteúdos e o contexto em que as práticas ocorrem. Há umamultiplicidade de ações ocorrendo na sala de aula que exigem do professor um trabalho interativo.
• Há preocupação das professoras em inserir os alunos nas discussões, o que implica assumir o trabalho docente de forma intencional, sistemática e comprometida.
• A aula desloca a ênfase transmissiva para a construção do conhecimento. Professores e alunos aprendem na prática, ao longo do processo didático fundamentado na compreensão da realidade.
• As professoras deixaram transparecer em suas práticas clareza de seu papel de formadoras de futuros docentes para a educação básica.
• Embora não tenham sido observadas práticas avaliativas, a avaliação como componente didático imprescindível ao trabalho pedagógico ficou evidente na atitude instigadora das docentes, desafiando os alunos a pesquisarem, a refletirem e a discutirem suas descobertas, avanços e fragilidades no processo de aprendizagem, tendo em vista a atuação futura em suas respectivas áreas de formação.

Respeitada a especificidade de cada área de conhecimento das diferentes licenciaturas, o desafio é superar a fragmentação dos saberes por meio de relações de colaboração integrada das diferentes formações dos alunos, que trazem a sua contribuição para a análise de determinado tema sugerido pela leitura da realidade. Podemos, então, admitir a existência de, pelo menos, três didáticas em uma só:
• a primeira seria a didática tal qual nos fazem vê-la, como um discurso político;
• a segunda seria a didática como ela é, instrumental;
• a terceira, como ela pode ser, uma outra possibilidade estruturada nas dimensões técnica, humana e político-social.

A tarefa é criar outras práticas, o desafio é construir de modo coletivo uma Didática que faça pensar sobre nossas práticas pedagógicas. Em síntese, percebemos que as professoras procuraram atuar com compromisso e responsabilidade. São professoras experientes, que realizam um trabalho docente distante da preocupação com a institucionalização de uma equipe que pensa, executa e avalia de forma mais coletiva. O trabalho é individualizado e solitário.

Um olhar sobre a aula
Adentrando a sala de aula da Instituição B, evidenciamos que a observação exige do pesquisador mais que “olhar atento”, exige a habilidade de dialogar com os fatos, ações, discursos, estabelecendo uma relação entre esses elementos de forma a interpretar o observado sem permitir que a subjetividade interfira sobre a análise. Veiga (2008, p.273) acrescenta que “a questão do professor está em determinar com clareza qual é verdadeiramente seu papel e limite de sua responsabilidade no momento de organizar a aula.”

A realização de uma aula pressupõe uma estruturação didática composta por objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação e meios necessários para que os estudantes se sintam desafiados a construir suas concepções, tendo como ponto de partida uma problematização apresentada tanto pelo professor quanto pela turma ou pelo próprio contexto. A relação pedagógica entre os participantes do processo didático torna-se uma ação coletiva e participativa, voltada para a obtenção dos objetivos educacionais propostos. Uma relação que permita aos professores e alunos trazerem suas experiências, vivências, conhecimentos, incertezas, bem como análise das questões, para que sejam examinados, interpretados e compreendidos.

No tocante à organização da aula propriamente dita, percebemos a centralidade do papel do professor na determinação dos objetivos, na seleção do conteúdo e na forma de socializar a aula. Este modelo de organização de aula fortalece a passividade do aluno, impedindo o desenvolvimento de atitude de co-responsabilidade.

Todavia, foi possível observar pontos positivos que merecem destaque, tais como organização de atividades individuais ou em grupos para compreender uma temáticamais complexa; elaboração de planos de ensino para uma realidade escolar; realização de exercícios para desenvolver habilidades de resolver problemas, etc.

Por tudo quanto foi exposto até o momento, podemos afirmar que as propostas didáticas necessitam:
• transcender o sentido puramente técnico e visar competências profissionais complexas, como a habilidade investigativa sobre a prática;
• tomar a escola como espaço por excelência da formação do professor, acreditando nela e tentando mudá-la por dentro;
• unificar os planos de ensino, a fim de recuperar a unidade da disciplina por meio de um enfoque integrador e coletivo. Isto exige trabalho em equipe, para conceber, executar e avaliar a disciplina no âmbito do currículo e do projeto pedagógico do curso;
• reestruturar o conteúdo de Didática como síntese dos fundamentos da prática pedagógica, fornecendo orientações necessárias para tornar o processo didático uma ação reflexiva, questionadora e interdisciplinar;
• repensar a formação do professor de Didática, bem como seu processo de desenvolvimento profissional e suas condições objetivas de trabalho.

Em geral, na prática pedagógica de docentes da educação superior não encontramos todas essas possibilidades reunidas. Entretanto, servem de indicadores para o aprimoramento da aula - como espaço e tempo - durante a qual professores e alunos se encontram para, juntos, realizarem uma relação pedagógica em direção ao desenvolvimento pessoal, profissional e institucional.

Este momento da pesquisa oportunizou compreender o processo vivido pelas professoras de Didática e as relações estabelecidas em sala de aula: professor e aluno; teoria e prática; ensino e aprendizagem; conteúdo e forma; objetivo e avaliação; organização do trabalho pedagógico.

Adentrar a sala de aula, com toda a sua complexidade, exigiu das pesquisadoras um aprofundamento teórico sobre a temática em questão; no sentido de realizar uma análise mais criteriosa das 54 prática pedagógica que se desenvolve nesse contexto, imbuídas do espírito inovador e do desejo de contribuir para a reflexão sobre a importância da Didática na formação do professor na atual sociedade em mudanças.

Ao mesmo tempo em que a pesquisa tem uma dimensão investigativa, tem também uma dimensão formativa, por agregar ao grupo de pesquisadoras as alunas do curso de Pedagogia, contribuindo assim para a formação de todos os sujeitos envolvidos no processo de pesquisar. Finalizando, vale ressaltar que o grupo se constitui em uma instância de formação continuada, de desenvolvimento pessoal, profissional e consequentemente institucional.

A aula de Didática nos cursos de formação: uma perspectiva de análise

A observação é considerada um momento privilegiado de contato com o real, “é observando que nos situamos, orientamos nossos deslocamentos, reconhecemos as pessoas, emitimos juízos sobre elas” (LAVILLE, 1999, p. 176). Foram observadas aulas de sete professoras de Didática, realizadas durante três a quatro horários geminados na Instituição C.

Reforçamos a idéia de que a Didática não é neutra. Como disciplina pedagógica, tem um compromisso social e político que se expressa na definição do que se ensina ou deixa de se ensinar. Nesse sentido, as opções dos docentes apresentadas neste texto expressam a opção por um conhecimento comprometido com uma visão de mundo, de sociedade, de homem, de educação e de formação docente.

Acreditamos que a Didática, como disciplina pedagógica dos cursos de formação de professores, tem uma natureza teórico-prática que não pode se reduzir ao domínio dos procedimentos, dos materiais nem dos recursos didáticos, dimensão importante da organização da aula, mas que por si só não possibilita a compreensão do processo de ensino em suas múltiplas determinações. Por se constituir uma teoria geral do ensino, não tem o compromisso de discutir a especificidade de cada licenciatura, mas generalizar o que é comum e fundamental para a prática pedagógica no processo de formação docente.

Uma análise mais geral sobre as aulas observadas mostra que:
• não existe uma prática única no desenvolvimento das aulas de Didática. Em alguns casos, foi possível constatar coerência entre o planejamento e o desenvolvimento da aula;
• em outros casos, as aulas pareciam acontecer de maneira informal, sem muita relação entre as discussões e o objetivo principal da disciplina, qual seja contribuir para a compreensão do seu objeto de estudo: o ensino;
• todas as aulas aconteceram em quatro tempos seguidos de 50 minutos, ou seja, quatro horários geminados. Esse é um aspecto que merece uma reflexão. Algumas professoras demonstraram preocupação com esse tempo, no sentido de organizá-lo em diferentes momentos e abordagens, com a participação de alunos e professoras.

Entretanto, a cena mais comum encontrada nas aulas observadas foi a de professoras que desenvolveram a aula informalmente, sem muita preocupação com a ocupação do tempo/horário destinado às aulas;
• tal fenômeno nos leva à seguinte questão: o que aprendemos estudantes de licenciatura quando vivenciam aulas que têm como princípio a discussão, compreensão, organização do principal lócus de trabalho docente – a ‘aula’ – e, ao mesmo tempo, esbarram em práticas fragmentadas, descompromissadas com o processo de formação.

Realizar uma análise da aula de Didática é reafirmar a tese de que o professor não pode abrir mão de seu papel sóciopolítico - pedagógico e a de que sua aula acontece em um espaço pedagógico que não é neutro e que, por isso, tem compromisso com a formação política de seus estudantes. Por não ser neutra, a prática docente exige definição, tomada de posição e de decisão, ruptura com paradigmas centrados na individualização, no isolamento e na fragmentação do trabalho pedagógico. Esse processo coloca, ao educador, a necessidade de escolher e saber por que escolheu e organizou os espaços pedagógicos para possibilitar a formação coletiva comprometida com questões sociais (PEREIRA, 2006). E esse ainda é o desafio da Didática!

CONCLUSÃO

O balanço das pesquisas sobre o papel da Didática na formação de professores para a educação básica evidencia que essa temática tem sido abordada de variadas formas.

A investigação deixa clara a perspectiva da Didática, que tenta superar a proposta da racionalidade técnica e tem se pautado nos seguintes aspectos:
• redirecionamento da relação teoria-prática, ao centrar a discussão didática na prática escolar;
• identificação dos conhecimentos didáticos necessários para o professor atuar na sala de aula em situações cada vez mais adversas;
• articulações dos conhecimentos didáticos do professor tanto com a prática quanto com os conhecimentos do processo da formação básica.

Direcionando essas idéias para o foco central da pesquisa que realizamos, é possível considerar algumas implicações decorrentes dessa perspectiva em construção. Os estudos revelam as fragilidades do processo de formação inicial no tocante à Didática, tais como:
• fragmentação e desarticulação curricular. A Didática é planejada individualmente e não pelo grupo de professores;
• a disciplina é tratada como se fosse autônoma e sem vínculo com o seu significado para o exercício da profissão;
• a ausência do significado da Didática e de seu papel importante na formação do professor, sem considerar o currículo e suas necessidades.

Algumas implicações da Didática na formação de professores da educação básica são apresentadas a seguir.

A primeira delas evidencia que, ao se deparar com a situação real em que se dá a prática docente, o aluno adentra a cultura existente na escola, convivendo com suas rotinas, tarefas, procedimentos e valores presentes no processo didático. O contato com o real propicia a reflexão sobre a prática observada, a descoberta e o desvelamento das situações da sala de aula. Assim, o futuro professor pode avaliar a prática de sala de aula.

A segunda implicação diz respeito à possibilidade de se evitar a transposição de uma concepção teórica de forma direta para a prática docente. O futuro professor, ao entrar em contato com a sala de aula no período de formação, terá mais segurança e coerência com a concepção teórica da didática desenvolvida. A teoria mediatiza a relação do futuro professor com a prática, possibilitando a superação de uma visão exclusivamente pragmática do trabalho docente. A prática mediatiza a relação do professor com a teoria.

Uma terceira implicação está no fato de que o futuro professor, ao mesmo tempo em que questiona a prática docente e a cultura escolar, como estas se apresentam no contexto do trabalho, também levanta os aspectos positivos e facilitadores nelas existentes.

Uma quarta implicação diz respeito às características da escola para a qual o professor precisa se formar hoje. Entre as principais características situamos:
• a democratização quantitativa, ou seja, a explosão escolar, também conhecida por “escola de massas”, que recebe uma população com características bastante divergentes das que anteriormente estavam presentes na instituição educativa. A escola se heterogeniza progressivamente e, portanto, se complexifica;
• os alunos são provenientes de populações carentes de meios suburbanos, de meios rurais, originários de grupos ligados às mais diversas situações de emprego, de subemprego, de desemprego e até de marginalidade. Em consequência, as situações de exclusão, saídas precoces da escola, a violência, a droga, a gravidez precoce, entre outros fatores, fazem parte do dia-a-dia da escola;
• trata-se de uma escola que não foi concebida para eles e os professores não estão formados para lidar com um aluno real, socializado em outros valores.

Se a escola muda, temos que mudar a formação dos professores, levando em consideração a diversidade e heterogeneidade dos alunos. Temos que procurar novas propostas de formação de professores.

Os professores são produtos de um processo de formação e são portadores de conhecimento. Temos, portanto, de construir novas propostas de formação de professores. E, mais ainda, construir com o professor uma visão de totalidade, ou seja, conhecer na essência, determinando e organizando o conhecimento mais relevante e significativo para a aprendizagem do aluno (VASCONCELOS, 1995).

Estas implicações permitem afirmar que o futuro professor aprende a partir do exercício da profissão, o que significa a unicidade de teoria e prática. Nessa perspectiva, as pesquisas sobre a Didática deixaram claro o propósito de identificar e analisar conhecimentos e princípios que mediatizam a teoria e a prática. O contato com a sala de
aula da escola básica fornece pistas fundamentais para a formação do professor à medida que propicia a articulação entre o conhecimento didático, contexto escolar e a reflexão sobre a prática docente.

A conclusão que extraímos da pesquisa é que a Didática não pode ser determinada a partir de fora. São os professores e alunos de Didática que devem decidir o programa da disciplina, seus objetivos, seus rumos epistemológicos, como teoria geral do ensino, seu significado para a formação do professor da educação básica, de forma solidária, colaborativa e compromissada.

Outra conclusão a que chegamos e necessita ser reforçada é a que diz respeito à própria formação do professor de Didática. O professor ou professora da disciplina tem que, inevitavelmente, ser um pesquisador da área, a fim de tornar o ensino da Didática mais atraente e respaldado nos resultados das investigações envolvendo os alunos em processo de formação.

A participação dos professores de Didática em eventos científicos e principalmente no Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE é imprescindível como processo de formação continuada.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, M. A pesquisa na Didática e na prática de ensino. Palestra proferida no IV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino.Recife, PE: UFPE, 1987.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo, SP: Cortez, 1991.

LAVILLE,C. eDIONE, J.Aconstrução do saber:manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre, RS: Artmed, 1999.

VASCONCELOS, C. Planejamento: Plano de ensino – aprendizagem e projeto educativo. São Paulo, SP: Vozes, 1995.

VEIGA, I. P. A. A organização didática da aula: Um projeto colaborativo de ação imediata, in: VEIGA, I. P. A. (org.). Aula: Gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas, SP: Papirus, 2008.


ANÁLISE DE ARTIGO

  • OBJETIVO

Discutir o papel da Didática na formação de professores da educação básica e superior a partir de uma pesquisa interinstitucional realizada em três instituições de educação superior, sendo duas públicas e uma da esfera privada.

  • JUSTIFICATIVA

A necessidade de se realizar um estudo que abordasse questões relacionadas à natureza da formação didática que está sendo recebida pelos alunos dos cursos de formação de professores, na graduação, a partir da percepção por parte dos pesquisadores de que algumas funções precípuas do ensino da Didática vêm sendo exercidas com ênfase ora na dimensão técnica, ora na dimensão política, polarizando a sua ação.

  • OBJETO

O papel da Didática na formação de professores da educação básica e superior

  • METODOLOGIA E SUJEITOS DA PESQUISA

A pesquisa de cunho qualitativo utilizou a entrevista semi-estruturada, a observação, análise documental e o grupo focal, envolvendo professores de Didática e alunos de licenciatura das três instituições pesquisadas.

  • QUESTÕES

    • Qual o papel que a Didática tem ocupado na formação de professores da educação básica e superior?
    • Por que os programas de formação de professores tratam de todos os temas, menos daqueles que ajudam o professor a atuar efizcamente nos processos de aprendizagem dos alunos?

  • REFERENCIAL TEÓRICO

    • ANDRÉ, Marli. 1987
    • LIBÂNEO, José Carlos. 1991
    • LAVILLE, C. e DIONE, J. 1999
    • VASCONCELOS, C. 1995
    • VEIGA, I.P.A. 2008

  • CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

Diante do caráter intencional que a Didática exerce no processo de formação dos professores, pode-se concluir que o conteúdo programático, os objetivos, os rumos epistemológicos e o significado da disciplina Didática para a formação do professor devem ser pensados pelos próprios agentes envolvidos no processo ensino- aprendizagem, ou seja, professores e alunos.
             Outro fator relevante diz respeito à própria formação do professor de Didática, o qual tem que ser pesquisador da área com o objetivo de tornar o ensino de Didática mais atraente e respaldado nos resultados das investigações envolvendo os alunos em processo de formação.
            Nessa ótica, compactuamos com as considerações tecidas nestas pesquisas no aspecto de que os cursos universitários dedicados à formação de professores devem ter como foco o processo de formação didática, processo esse que deve propiciar ao docente a construção de um repertório de saberes, conhecimentos de caráter totalmente pedagógico que permita a sua instrumentalização para melhor desenvolver o processo de ensinagem garantindo ao aluno a apreensão dos conhecimentos sistematizados e a produção de novos conhecimentos.
           É preciso relembrar que no campo educacional o foco didático de mediação da aprendizagem se dá num contexto espaço-temporal determinado em que há subordinação da mediação didática à mediação cognitiva. Dessa forma, fica claro a necessidade do futuro profissional ter contato direto com o lócus de sua formação, pois, a sala de aula é um dos maiores laboratórios responsáveis em fornecer pistas para a formação dos professores a medida que permite a articulação entre o conhecimento didático, o contexto escolar e a reflexão sobre a prática docente.
           Partindo desse pressuposto, o processo de ensino deve propiciar aos alunos o desenvolvimento das capacidades e habilidades cognitivas de modo que dominem conceitos, formem esquemas mentais de interpretação da realidade, aprendam a organizar ou reestruturar o pensamento, a raciocinar logicamente, a argumentar, a solucionar problemas (captar o caminho do pensamento científico e dos processos de investigação da ciência ensinada). Os momentos de ensino num procedimento metodológico pautam-se em: reflexão, análise da matéria e interiorização de Esse texto nos permite ainda salientar que a produção de conhecimento e pesquisas no campo da Didática se volta muito para a teorização e com pouca preocupação com sua aplicabilidade na prática.

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